09 janeiro 2006
AS ESCOLHAS DE ISABEL COUTINHO PARA 2005
Depois das escolhas (aqui) de Pedro Mexia e de Eduardo Pitta (aqui) para os livros de 2005, aqui estão os livros de Isabel Coutinho, editora do «Mil Folhas/Público»:
“Sábado”, de Ian McEwan (Gradiva)
Dos livros que saíram este ano e que eu li (ainda me faltam ler muitos), este é o que coloco em primeiro lugar. A seguir ao 11 de Setembro, Ian McEwan escreveu no jornal “The Guardian”: “A maior parte de nós não tem nenhum papel activo nestes acontecimentos terríveis. Limitamo-nos simplesmente a ver televisão, ler os jornais e ligar o rádio outra vez.” Ao ler “Sábado” e assistir às interrogações, problemas e momentos de felicidade de Henry Perrowne, apesar de viver no tal “estado de terror”, como lhe chama McEwan, somos também forçados a questionar o que andamos a fazer por aqui.
“Lunar Park”, de Bret Easton Ellis (Teorema)
Depois de uma ausência de alguns anos, Bret Easton Ellis regressou com este romance. “Lunar Park” é uma paródia, é um romance onde Ellis mistura vários géneros, que vão desde a autoficção (as primeiras 46 páginas são fantásticas!) até à literatura clássica do horror e ao policial. É, como todos os livros dele, uma crítica à sociedade americana (a família, as relações entre os pais e os filhos, um olhar sobre a geração dos “tween” são alguns dos temas que estão lá). É o primeiro livro que publica após o 11 de Setembro, o primeiro que publica após a morte do seu amante, o primeiro em plena crise de meia-idade. Bret tem agora 41 anos, começou a escrever aos 20 (“Menos que Zero”), continua com a mesma ironia e a surpreender-me.
“Laocoonte, rimas várias, andamentos graves”, de Vasco Graça Moura (Quetzal)
Foi o livro de poesia que mais gostei de ler este ano. Deixo aqui parte de um dos meus poemas preferidos: “Diana no banho” que começa assim: “Via diana/pelo buraco/da fechadura./era jacuzzi?//banho de espuma?/estava nua,/brilhava flava,/tinha o cabelo// puxado para cima,/belas maminhas/ à tona de água,/olhos fechados// deliciada,/os pés nas bordas/dos azulejos./(...)” e mais não cito. Vão lá ler.
“Haruki Murakami and The Music of Words”, de Jay Rubin (Vintage)
A primeira edição do livro é de 2002, este ano lançaram uma edição revista com mais um capítulo dedicado ao último romance de Murakami traduzido para inglês, “Kafka on the Shore”, e só agora o li. Jay Rubin é professor de Literatura Japonesa na Universidade de Harvard e tradutor de alguns dos livros de Murakami para inglês. Conhece o autor como ninguém e este livro é um guia para quem se interessa pela vida e obra deste escritor japonês.
“Nós, os Media”, de Dan Gillmor (Ed. Presença)
Dan Gillmor é jornalista e tem um blogue (we the media). Colocou este livro na Web, em 2004 saiu a versão em papel e este ano foi traduzido pela Ed. Presença. Reflecte sobre as mudanças a que temos assistido nos últimos anos na forma como se faz jornalismo por causa das novas ferramentas de comunicação disponíveis na Internet. Porque nos fala do que irá ser o jornalismo no futuro (ou será o futuro já agora?) e porque nos fala de coisas como a Wikipédia, o RSS e a blogosfera, foi uma das minhas leituras mais entusiasmadas.
“Longe de Manaus”, de Francisco José Viegas (Asa)
Porque foi o romance policial e de viagens que mais gostei de ler este ano: uma rapariga que nasceu e cresceu no Porto não consegue ficar indiferente a Jaime Ramos. Porque num ano em que quase não viajei para fora de Portugal, “Longe de Manaus” fez-me sonhar com viagens a África e à Amazónia e trouxe-me os sons e a grafia do Brasil intercalados com os sons e os cheiros do Porto.
“Os Meus Sentimentos”, de Dulce Maria Cardoso (Asa)
Porque se entra nos livros de Dulce Maria Cardoso como se de um turbilhão se tratasse, as imagens vão-nos aparecendo, as vozes vão surgindo, a sua lengalenga é encantatória e não a conseguimos largar. Definitivamente, a sua obra é original e eu já não sentia nada disto desde os tempos da adolescência, em que descobri a escrita de Llansol ou dos primeiros tempos de Saramago.
E considero ainda como livros do ano as traduções do “Dom Quixote de la Mancha” de Cervantes por José Bento e de Miguel Serras Pereira (na Relógio D’Água e na Dom Quixote); a tradução de Frederico Lourenço da “Ilíada” de Homero (Cotovia). E ainda o início da publicação do Curso Breve de Literatura Brasileira organizado por Abel Barros Baptista na Cotovia; o início da tradução do Musil com orientação de João Barrento na Dom Quixote e a tradução de Walter Benjamin na Assírio.
Ainda não tive tempo para ler, mas neste ano que passou quatro dos meus autores preferidos publicaram romances: Ali Smith (“The Accidental”); Julian Barnes (“Arthur & George”) Jonathan Coe (“The Closed Circle”) e Philipe Claudel (“La petite fille de Monsieur Linh”).
Comments:
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Ora aqui está mais um que repousa na minha estante, mas que ainda não foi aberto: Lunar Park, do genial Bret Easton Ellis.
Mas, por uma questão cronológica, irei ler "Glamorama" em primeiro lugar.
Mas, por uma questão cronológica, irei ler "Glamorama" em primeiro lugar.
Exacto! Lunar Park de Bret Easton Ellis... E já agora porque não saudar, ainda que repouse em minha casa sem ter sido lido, O Regresso do Menino Nicolau de Goscinny e Sempé (acho que da Teorema)... sem o menino Nicolau, e para quem não o leu em criança,nem A Historia do Senhor Sommer de Patrick Suskind (saudosa edição em capa dura) tem a mesma força!
Recomendo, em primeiro lugar, "O Cavaleiro da Dinamarca" de Sophia de Mello Breyner Andresen.
Depois "Menos que Zero", a seguir "As Regras da Atracção" e finalmente recuar à frivolidade presunçosa de... Bateman!
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Depois "Menos que Zero", a seguir "As Regras da Atracção" e finalmente recuar à frivolidade presunçosa de... Bateman!
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